Friday, June 12, 2009
Medidor de tensões
Não vi nenhum medidor de tensões arteriais mas vi o que já quase desapareceu da Índia, o vendedor de peso. E não vi só um mas vários.
Sempre a mesma imagem: um muro, um homem sentado, olhar meio vazio, e uma balança de casa de banho.
Andando e andando não tiro os olhos do horizonte onde sei que vai surgir Hagia Sophia. E assim passo pelo Grand Bazaar sem sequer reparar que existe. E avisto os minaretes, acelero o passo excitada como uma criança que não se cansa de descobrir.
De repente… não sei se contemplar Haghia Sophia ou virar-me de costas e admirar a Mesquita azul. Estou rodeada de Mundo, de turistas inter-continentais, dos jeans aos saris que vencem as burkas.
Protegemo-nos do calor com o meu guarda chuva cor de rosa, tal sombrinha, ignorando os risos.
A beleza das mesquitas é quase incomparável. Constatação dos tempos em que os arquitectos eram poetas.
Mar de Mármara
Com o mar de Mármara ao longe sinto-me imensamente feliz.
Andamos por aí, sempre de sombrinha, e entramos em Sokollu Mehmet Paça Camii. Cubro os ombros por respeito embora não haja ninguém. Um ar fresco entra connosco logo depois de atravessarmos o cemitério. Uma serenidade imensa também entrou e envolve-me enquanto sentada à sombra.
Por uma porta do pátio entra um grupo de miúdos com uma bola de futebol… que logo desaparece por outra. E por trás de nós entra um grupo de rapazes de ar mafioso que se sentam num sofá velho e abandonado, quase ao colo uns dos outros. Tiro os sapatos, cubro a cabeça e entro.
Só um homem sentado lá à frente e não há nenhum deus. Não há estatuetas. Apenas uma beleza interior de dizeres azuis, com alguma pouca luz que entra. O meu pescoço inclina-se para se ajustar à fascinação do interior.
Mesquitas que cantam
Engraxadores de sapatos, pelos menos há 15 anos desaparecidos da baixa do Porto. Vendedores de descascadores de batatas, que quase encantam pai e filho.
Mini-saias e burkas não se zangam.
E é uma hora mais tarde, começam as rezas. Parecem perto mas imediatamente são de todas as direcções e crescem e crescem, lutando contra os ruídos da modernidade , e ganham.
É o que de melhor tem o islamismo, cânticos mágicos que ditam as horas.
Istambul
Vejo a mesquita azul, o mar de Mármara e o início do Bósforo. Ouço altifalantes de mesquitas que se disputam. Vejo telhados e telhados e centenas de barcos ao largo. Tantas centenas que as suas luzes de noite parecem terra firme… todos virados para o mesmo lado como, como se rezassem a Meca.
Continuo sem ver nenhum medidor de tensões arteriais.
Estou apaixonada pelo cachimbo de água e pela toalha bordada azul índigo. Estou apaixonada por ti e pelo Bósforo e pelas mesquitas. Apaixonada por mim, tal qual sou. E fotografo-me a cada reflexo.
Se a Ásia e a Europa se misturam um pouco que seja… é em Istambul.