Saturday, May 30, 2009

Callejón de La Capilla


Num dos extremos da rua, um padre de vestes castanhas, desadequadas ao clima, fecha uma enorme porta também castanha… e fica a cruz branca que dá o nome a esta ruela.
Do lado oposto, um céu cinzento e pesado atravessado por uma luminosidade fora do vulgar.
Aí estaciona o carrinho branco de tampas vermelhas: “Helados los Muchachos”… mas não por muito tempo… o suficiente para um golo de rum.
Sente-se uma aragem que me seca o suor. São 5pm e a salsa ecoa na estreiteza deste beco.
Duas mesas de metal foleiro e várias cadeiras, cada um por si.
Velhos e uma única mulher de cabelo vermelho e camisa cheia de folhos da moda da sua juventude, agarrada a um saco de plástico.
Passa um cego e enchem-lhe o copo de moedas, os velhos. Parou para ouvir a música e quase só se ouve o pau que o guia a bater o ritmo nos paralelos.
O vento traz o cheiro a carne grelhada e outro rapaz… um mulato quase negro de sapatilhas americanas e imensas rastas; os seus 50 anos e uma boina de renda branca. Cumprimenta os velhos e segue.
Os paralelos não são de cimento mas tipo lousa da escola de quando era muito pequenina e que já não deve nem existir. De um negro que muda de cor com os reflexos do céu e que escorrega com a chuva. A esta hora são de um azul petróleo com as manchas que o petróleo faz na água.
Aproxima-se o som das rodas de um carrinho de bebé e afasta-se o som da saca de supermado com rodas do pobre que arrasta todos os seus bens.
Todos os miseráveis e não miseráveis passam por aqui.
Os bichos mordem-me os pés e o meu cérebro pára. Não quer conversa.
Lusco fusco e Reggaton, a música que nunca sobrevivará fora das Caraíbas.
Mais sandálias prateadas.

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