Desabafo, a caminho de Chidambaram
Dois dias doente, Bombaim em guerra, o ciclone Nisha em Tamil Nadu.
Ganesh, que tomou conta de mim estes dias, leva-me a estação de autocarros mas faz um desvio ao templo de Kali para que um padre com 6 dedos me benza algo contrariado. Obriga-me a comer o pó branco... só digo ao César o que é o pó branco ou iam-me gozar o resto da vida.
Chidambaram, terra de Shiva Nataraja e a palavra que mais usei nas 24 horas seguintes…. Dai o desabafo…
Perco o primeiro autocarro então meto-me num para Tanjore para de lá apanhar outro para C.
Em Tanjore "rain, water, street to C. close".
E convence-me que indo por Trichky chegava a C.
Uma indiana dos seus 50 resolve querer sentar-se no lugar da minha mochila quando tem outro lugar livre. Explico-lhe isso com delicadeza. Ela resolve formar uma união de homens contra a minha mochila. O revisor fugiu para a frente ao adivinhar uma guerra feminina. Fui paciente e educada... mas com a desagradável insistência do grupinho levantei-me, obviamente a mais alta da camioneta, e mandei 3 berros. Sentei-me e continuamos a viagem em silêncio, todos.
Chego a Trichky "street ok, C. ok".
Passo por Tanjore outra vez e começo a ver a coisa mal parada, deviam ser 6 horas de viagem... já vou no 3 autocarro e de um lado para o outro.
Note-se que estação de autocarro não tem qualquer palavra em inglês, está tudo escrito naquela linguagem Tamil que parecem muitos n`s e g`s. E os seres que habitam essa terra, paragem de autocarro, não falam mais que 4 palavras, as atrás descritas. Para alem disso o autocarro descobre-se indo perguntar ao condutor um a um... e não são poucas as viaturas... para alem disso há os residentes que dormem, lêem, comem e até um deficiente que se fartou de ser deficiente e começou a andar direito.
Vou eu no terceiro autocarro, começa a anoitecer, sei que não vai para C. e que tenho que apanhar outro.
Passa um elefante numa carrinha de caixa aberta. Bem sei que estou na Índia mas julgo estar a alucinar.
Anoitece, uma manifestação no meio do nada.
"big problem, no electricity" diz a velhinha a meu lado e eu pergunto-me o que isso tem a ver com o autocarro e contra quem se manifestam eles...
Nem vejo hotéis nem táxis pelo caminho, como ultimo recurso, e começo a pensar pedir asilo a esta velhinha tão simpática quando ela sai... eu continuo sem saber bem se estou a achar graça a isto ou não, mas sempre calma e com esperança de chegar a C.
Chove, sou eu que tenho que fechar as janelas das senhoras todas que nenhum homem se levanta e elas são mais fraquinhas que eu. Ganhei um clã de amizades. Pára de chover, abro as janelas, começa a chover, fecho as janelas (várias janelas que não saiam do sitio há séculos...).
Já nem sei o que me passava pela cabeça, agua por todo o lado.
O motorista um louco desvairado, o pior dos três. Comia folhas de árvores com uma pasta branca no meio que nem quero saber o que era mas as velhinhas resmungavam com ele.
Atirou não sei quantos motociclistas fora da berma e partiu um espelho a um desgraçado que ia tão bem do outro lado. Mas sempre em frente.
Enfim... que já vai longo... como foi o meu dia... são 9 pm e chego a outra estação.
"C.", pergunto eu. "Street close, rain, no possible".
Desisto furiosa. Há um hotel do outro lado da rua, "business hotel"... talvez em tempos... agora cheira a mofo profundamente.
Quero quarto com água quente, ar condicionado e TV.
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