Dia 5 de Maio e último dia de esplendor em Havana.
Acordo às 8hoo porque dormi demais. Deixo parte das minhas coisas com Yonaisis e Laura e levo outras para deixar por aí. É a primeira vez que a minha mochila regressa mais leve.
Saio rua fora feliz, porque estou feliz.
Em direcção à piscina do Hotel Sevilla perco-me em Habana Centro. E perco-me horas a fio com miúdos que jogam baseball. Não podem ver as fotografias mas espreitam e põem os dedos na objectiva quando percebem o seu reflexo.
E será verdade que este pintor catalão de 87 anos conheceu E. Hemingway, atravessou o Atlântico com P. Neruda e viveu com Che? Discípulo de P. Picasso, conta-me que jogou xadrez com Trotsky em casa de Frida Kahlo e de Diego Rivera... Eu de olhos arregalados sentada num banquinho de madeira.
Derreto de calor, quando encontro um bar de seis mesas sem tecto. E é aqui que encontro um fotógrafo cubano, verdadeiramente entendido. É ele que me tira as únicas fotografias que tenho de mim própria, aparte de reflexos em espelhos. Ali mesmo, naquela rua estreita em frente ao bar e com o meu melhor sorriso!
Passo na rua São Rafael e obviamente tiro uma fotografia à placa, em homenagem ao meu sobrinho querido.
Esquivo-me de mais dois ou três jogos de rua e chego ao Prado, rua grande com um jardim no meio... ainda com ideias de ir à piscina do Hotel Sevilla. Como em todos os jardins do Mundo, gente que se senta nos bancos... mas aqui há música cubana, da antiga, uma espécie de salsa a 10%... E timidamente convido um senhor que podia ser meu avô para dançar. Com todo o respeito pega na minha mão e os passos e as voltas são bem mais suaves. Eu estava de bem com a Vida e ele muito concentrado. Quatro ou cinco músicas passaram até à nossa sincera e nostálgica despedida.
Mais adiante o radiante Hotel Sevilla... mas já não tenho dinheiro para esta piscina. Horas de conversas de rua depois, hotel Deauville, frente ao Malecón. São 4 p.m. e o tempo passa devagar ou demasiado depressa. Entro nesse hotel de cubanos e mergulho na piscina do último andar. Havana é linda aqui do alto.
Mas o fim da tarde empurra-me para uma derradeira despedida no Malecón, com aquela imagem que todos conhecemos de Cuba.
E mais baseball, e mais miúdos e Liens e Juan que me pedem uma fotografia. Sorriem agarrados para mim. São as minhas duas últimas fotografias desta viagem.
Depois disso atravessei o Malecón até casa, hotéis da máfia de outros tempos para trás e eu livre da Nikon F90 até ao fim.