ISRAEL
Oh Jerusalém.
Assim que chego, mergulho por ti a dentro. Como que ansiosa de te chegar.
Um autocarro cheio de militares (como serão todos daqui para a frente, os autocarros). Miúdos de 20 anos, cheios de estilo com óculos Ray-Ban e mais qualquer coisa que não tem nada a ver com ser-se militar… para além da arma que vai sempre entre eles e a janela como um guarda-chuva incómodo. Tipo saídos de catálogos.
E não só nos autocarros mas por todo o lado.
Mas voltando a Jerusalém… Entre muralhas onde misturaram 3 religiões monoteístas que no fundo são todas iguais… mas lá dentro separaram-nas por quarteirões e deixaram a cada uma o seu local de culto.
Os CATÓLICOS fazem procissões com enormes cruzes de madeira ao longo do caminho que Jesus Cristo fez até à Igreja do Santo Sepulcro. Não abona muito a seu favor este tipo de… culto. No meio de tanta cidade apertada mal se vê a Igreja, que é uma simples porta de um pátio calmo. Lá dentro cantam e têm velas acesas e cheira a incenso de Igreja, do bom. É um semi-escuro lindo e eu diria que me senti como que protegida… talvez pelas vozes ou pela história. Ou pela serenidade das suas paredes…
Ainda não me decidi quando à minha religiosidade mas considero-a mais cristã… até ver.
E agora não sei qual o mais impressionante. Mais diferente quero eu talvez dizer. Deixo esse para o fim talvez…
Então vem o ISLAMISMO. E convenhamos que se evidenciaram… construíram a mais bonita Mesquita que alguma vez vi. Em redor de Al-Aqsa é uma paz imensa outra vez. E nesta Jerusalém castanha cor de barro, quem pode não admirar tal monumento de azulejos azuis turquesa e cúpula dourada? Brilhante como um sol, como um lindo e dominador sol.
Aqui não posso entrar. Nem mostrar os ombros… mas isso não posso em lado nenhum… também não tenho que cobrir a cabeça.
Al-Aqsa vê-se de longe, quando se sobe aos telhados de Jerusalém e do MONTE DAS OLIVEIRAS, cuja escalada sob sol escaldante só compensa mesmo a imagem inigualável da mesquita azul.
E o tal Monte das Oliveiras… esse é imensamente LINDO visto do lado de cá… de Jerusalém. É curioso como em todas as religiões há sempre um sítio onde toda a gente quer morrer… Diria que esta encosta compete bem com o Ganges. É linda pois as Oliveiras são lindas e as despojadas cruzes brancas também o são.
Mas o mais bonito, não sei porquê… talvez porque foi o que sempre mais me causou curiosidade, foi o MURO DAS LAMENTAÇÕES. É só um muro e um pátio que de sereno não tem nada. É uma mistura de turistas a tentarem fotografar Haredins e de Haredins a fugirem de fotografias de turistas. Sempre cheios de pressa por Jerusalém fora, como se tivessem medo de não sei bem o quê. Até os carrinhos de bebés eles empurram cheios de pressa. Tranças a abanar e sapatos pretos velozes.
Mas sim, foi para aqui que vim a correr mal pousei a mochila no Hospício Austríaco, um pequeno oásis na cidade velha… o tal Hospício. E tive que ir mesmo até ao muro e tocar-lhe e tentar perceber… embora não perceba hebraico e muito menos a Tora. Mas fui até lá e toquei-lhe e senti as pedras cheias de papelinhos entre as ranhuras e também deixei um papelinho com alguns dizeres dos quais já não me recordo. Mas deixei e toquei e senti as pedras. Elas quase falam… são QUENTES.
Dias mais tarde deste-me aqui um anel de noivado… sabias que eu adorava o muro… nem eu sei porque razão… adoro o tal muro… talvez por gostar de ver as pessoas a abanar a cabeça contra o muro?!?… Chorei como uma criança e escondi-me no teu ombro envergonhada… e aí sorri.
Jerusalém cansa de tantas ruelas estreitas, de tantas lojas de bugigangas, tantos terços e hamsás e rosários e tudo o resto com Jerusalém inscrito. Mas só cansa se não souberes onde respirar… nos telhados onde o barulho vem de longe. Há umas escadas que quase não se percebem que te levam lá para cima. Onde o céu se vê sem ser numa frincha e o sol nos cumprimenta mas mais uma vez demasiado escaldante.
Jerusalém é lindo. A misturada de religiões (que não se perguntam porque têm os mesmos locais sagrados) só pode ser bonita e é. Intensa. Linda.
São umas horas até BELÉM. Ao longe o imenso muro (que outros muros se destruíram….) que constroem. Um muro imenso. Não tem fim. O autocarro passa perto e entra na Cisjordânia “a partir deste ponto israelitas não podem entrar”. Foi onde Jesus nasceu, numa gruta de uma igreja apinhada de russos e brasileiros. Na Cisjordânia, onde cristãos e muçulmanos vivem em harmonia… mas não com judeus. Onde nos dias de hoje se constrói um muro.
E para TSFAT são muito mais horas. Pois a Galileia fica no norte e longe e nas montanhas.
A terra da Kabbalah e dos Haredim, o povo ridículo das trancinhas. Os que não pagam impostos e invadem as terras dos outros, os que não cumprem serviço militar e não trabalham. Os que supostamente estudam a Torá mas que repudiam os outros pela sua diferença e cuja antipatia torna a sua estranha imagem algo desagradável.
E não misturem a Kabbalah com os Haredim. Tsfat é uma linda terra na montanha onde o Shabat é tão rigoroso que mesmo antes de voltar para casa… custa.
Jerusalém é lindo como seria de esperar. Por ser Jerusalém. Por ser quem é.
Um beijo
Joana