Sunday, December 06, 2009

Kataragama



Tudo são terras de estrada depois de Ella. Deixaram de existir plantações de chá e reinam os campos de arroz e os pássaros brancos de pernas longas que voam com elas esticadinhas para trás.

A beira da estrada, num lamaçal imenso, param carrinhas e carripanas cheias de cinaleses vindos de todos os cantos, todos de branco.
Mesmo em frente, as barracas que vendem os cestos de fruta para o Puja. São varias filas de barracas destas, misturadas com as que vendem brinquedos de plástico do século passado, tudo com uma musica Kusturika-like que vem das árvores mais próximas e que nos transporta para um cenário de um Senhor de Matosinhos de há muitos, muitos anos… mesmo antes de sermos nascidos.

Atravesso a ponte e não lá muito em baixo, no Menik Ganga, lavam-se os peregrinos... um rio castanho e inerte... demasiado inerte.
E um jardim repleto de gente pobre, extremamente pobre, crianças que me agarram e pedintes e mais pedintes, velhos que se agarram a um pau para dar dois passos e deficientes e crianças por ai. Fecho os olhos e aperto-os com força.

É domingo. As pessoas misturam-se com cabras e calor e vacas... e eu... mas o espaço e amplo. E um quadrado que rodeia uma árvore Budhi, uma Ficus religiosa, onde Budha sentiu a iluminação.

Pelo caminho compro flores, incenso e velas para o templo de Buda. Um Dagoba branco enorme com imagens neo-kitch de Buda. Não lhe peço coisas difíceis pois estou rodeada de centenas de mais necessitados do que eu...

Ainda falta uma hora para o Puja e as famílias andam por ai. Os ricos de folhos e lantejoulas... os mais pobres com o que tem. Todos com o seu cestinho de fruta, assim como eu!

Tocam os sinos e ponho-me na fila. Meia desorientada sem saber o que vai acontecer... mas mantenho-me firme e entalada entre os peregrinos.

Uma hora e meia passa e não andei nem um passo. Escorre suor das minhas costas a uma velocidade superior a que a minha camisa aguentará. Mas não desisto. Há mulheres de muita idade de branco e de cabelo branco, muito bonitas, e mulheres com filhos pequenos. Entro numa espécie de letargia para não pensar que estou aqui, para não cair ou para não desistir... ou para simplesmente não pensar.

De repente e tudo muito rápido. A fila acorda e mexe-se e entro no minúsculo templo onde sou surpreendida por uma imagem de Skanda, o Deus hindu irmão de Ganesh. Entrego o meu cesto que recebo de volta... sem contar... benzem-me e estendo as mãos para beber a agua que vertem.
Quando saio, como a fruta e ofereço-a a quem lá não esteve.

Aqui é Kataragama, onde se rezam religiões.

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